A TV está morrendo!
Nos últimos anos consumidores de conteúdo passaram por mudanças de comportamento que parecem convergir para a morte da TV. Mas analistas da Strategy Analytics pensam diferente: na verdade, o que ocorre é uma transformação na maneira como vemos o que passa na telinha - porque a tela, na verdade, pouco importa hoje.
Um estudo divulgado nesta semana pela empresa chamado "TV's Not Dying, It's Changing" tenta comprovar exatamente o que seu nome propõe: a TV não está morrendo, está mudando. "A morte iminente da TV tem sido exagerada por alguns comentaristas", disse David Watkins, diretor da área de dispositivos caseiros conectados.
A tese é de que a base global de dispositivos endereçáveis à TV está passando por uma segunda onda de expansão rápida. A primeira ocorreu em 2007 com os PCs e a atual atingiu seu pico em 2012, impulsionada pelos dispositivos móveis.
Esses dispositivos são chamados pela Strategy de "novas TVs" e fizeram com que o setor (juntando o de televisores tradicionais) atingisse a marca de 5,1 bilhões de aparelhos no fim de 2013. Assim, até 2017 mais de 2 bilhões de aparelhos de TV terão sido adicionados ao cotidiano da população mundial.
"As empresas de TV e vídeo, estejam elas na produção de conteúdo, distribuição ou qualquer disciplina relacionada, devem sair da mentalidade de que seu negócio está puramente sobre a tela da televisão tradicional", explicou David Mercer, vice-presidente e analista principal da Strategy. "A era da TV multitela está bem e verdadeiramente sobre nós, e esta pesquisa demonstra que uma grande nova oportunidade está surgindo para aqueles dispostos a adotar múltiplas estratégias."
Você acredita que a TV está “morrendo”? Pois é, vamos ver o que está acontecendo com esse serviço ... o ano passado foi um péssimo ano para a TV e, talvez tenha sido o começo de uma “inflexão”. Nos últimos 5 anos as empresas de cabo americanas perderam 5 milhões de assinantes. Esperava-se que a massificação da banda larga ajudasse a TV mas aconteceu o contrário. Ver aqui mais os números que corroboram essa “morte” anunciada: TV Is Dying, And Here Are The Stats That Prove It, Business Insider, 24.nov.2013.
No Brasil ,nos últimos dez anos e com 16 novelas lançadas, o Ibope da novela das nove da Globo tem caído consistentemente indo de 50,49 pontos com a “Senhora do Destino” (de Aguinaldo Silva) até o mínimo de 29,8 pontos da novela recente “Em Família” (de Manoel Carlos). A novela “Avenida Brasil” (de João Emanuel Carneiro) – de grande sucesso - não chegou aos 40 pontos de Ibope alcançando apenas 38,8 pontos.
Isso tem preocupado bastante a emissora “Vênus Platinada” (e, por consequente, aos anunciantes do horário nobre) pois a programação das novelas nobres da Globo não atingem mais 40 pontos no Ibope (sic!). Com a nova novela “Império” (de Aguinaldo Silva), a Globo quer voltar novamente ao patamar de 40 pontos de Ibope (ver UOL Vê TV: Globo parte para o tudo ou nada com a novela “Império”, Maurício Sticer, 24.jul.2014). Se chegar aos 40 pontos já está bom para a emissora.
Vendo essa situação pensei: o que está acontecendo com a TV aberta se no horário nobre, a Globo não consegue mais atrair ao telespectador como há 10 anos atrás? Será que essa queda vai continuar e qual será o mínimo patamar que vai atingir? ... realmente eu não sei mas uma coisa é certa: o desejo de consumo do produto “banda larga” vai causar um bom estrago na TV – seja ela aberta ou por assinatura.
Mas ... uma coisa é certa, o cenário recente está mudando para as empresas de cabo nos EUA: as empresas de cabo americanas em breve terão mais assinantes de banda larga que assinantes de vídeo pela primeira vez em 65 anos na história da indústria (ver Broadband customers soon to surpass video customers for cable companies, Moody´s, 24.jul.2014). Em relatório publicado no final do mês passado (ver Cable Broadband Surpassing Video: Moody's, Light Reading, 28.jul.2014), o serviço de investidores da Moody´s sinalizou que que as operadoras de cabo americanas terão mais assinantes de dados de alta velocidade que assinantes de TV por assinatura em 2015 (ver Moody’s: Broadband Subs To Surpass Video in 2015, Multichannel, 24.jul.2014 ). O serviço da Moody´s calcula que o ponto de inflexão já está ocorrendo, com ambos serviços alcançando em torno de 50 milhões de assinantes.
Um estudo recente nos EUA (ver Americans increasingly view the internet, cellphones as essential, Pew Research Center, 27.feb.2014) mostrou que 53% dos adultos dizem que seria “muito difícil ou impossível” desistir do serviço de banda larga, enquanto 35% dizem o mesmo para TV. Na nossa opinião, essa será uma unanimidade mundial, a banda larga vai se tornar um serviço que ninguém vai querer dispensar ao passo que não podemos falar o mesmo da TV. A banda larga tem alguns diferenciais que a TV não possui, a saber: e-mail, OTT (p. ex., WhatsApp) e Redes Sociais sem considerar a banda larga móvel que com o 4G-LTE, Wi-Fi e Small Cell vai “arrebentar”. Segundo Rich Riley, CEO do serviço móvel Shazam: “En cuatro años, el móvil mandará sobre la TV”, El País, 03.mar.2014.
Vários empresas de cabo americanas já possuem mais clientes de banda larga que clientes de vídeo. Tanto a Time Warner, quanto a Charter – respectivamente a segunda e a terceira maiores provedoras de serviços a cabo americanas – atualmente já possuem mais assinantes de banda larga que assinantes de vídeo. A Cablevision – a quarta maior provedora de serviços a cabo - pode também já ter alcançado essa marca no final do 2º trimestre desse ano (ver ranking das empresas a cabo aqui: In the US: cable down, IPTV up, Broadband TV News, 17.mar.2014).
Também segundo a Moody´s, provedoras de serviços a cabo com significante sobreposição com os sistemas de IPTV da Verizon (serviço FiOS) e AT&T (serviço uVerse), tais como Cablevision e Time Warner, precisarão especialmente investir em produtos competitivos de vídeo para sobreviver. No Brasil, o IPTV não “decolou” com as incumbentes Oi e Telefónica. Não sabemos se existe mais espaço por aqui com a “alavancada” mundial do serviço Netflix que está fazendo um bom sucesso (ver Netflix profit doubles on U.S., foreign subscriber growth, Reuters, 27.jul.2014).
Adicionalmente, os clientes estão mostrando um deslocamento permanente de provedoras de serviços a cabo – embora lento – para programação de TV via satélite ou IPTV. No final de 2013, a AT&T tinha 10 milhões de clientes no seu serviço de Internet de alta velocidade, enquanto a Verizon tinha em torno de 5,5 milhões de assinantes.
As provedoras de serviços a cabo já perceberam a importância da banda larga e na telefonia móvel no futuro dos serviços de telecomunicações, e sabem que precisam apostar em mobilidade na tecnologia Wi-Fi pois não são detentoras de espectro de frequência convencional (como é o caso das operadoras de telefonia móvel Verizon, AT&T, Sprint e T-Mobile). Ver aqui os recentes movimentos da Comcast – 1ª maior provedora a cabo dos EUA com 21,7 milhões de assinantes - na tecnologia Wi-Fi: Comcast will build over 1 million commercial hotspots in US, Wi-Fi 360, 28.jul.2014; Comcast Buys Cloud Control WiFi Company, Dailywireless, 14.jul.2014; Boston Subway Gets Comcast WiFi, Dailywireless, 01.jul.2014; Comcast: WiFi in Merger Mix with TWC, Dailywireless, 08.apr.2014; e Comcast Creates Hotspot 2.0 National Network, Dailywireless, 10.jun.2013 e o da Time Warner – 2a maior provedora a cabo dos EUA com 11,4 milhões de assinantes: Time Warner Cable to Double WiFi Hotspots in 2013, Dailywireless, 04.feb.2013.
A Comcast sinalizou recentemente o seu interesse de adquirir a Time Warner o que criaria um “gigante” de 33 milhões de assinantes no mercado americano de TV a cabo dos EUA. A Comcast apresentou ao FCC – órgão regulador de telecom americano – um plano para essa aquisição de uma “bagatela” de 45 BUS$ (ver Comcast: WiFi in Merger Mix with TWC, Dailywireless, 08.apr.2014). Por razões óbvias, a notícia dessa aquisição provocou uma forte reação no mercado americano (ver NY Times Against Comcast Merger, Dailywireless, 27.may.2014).
Parece que no Brasil o mercado de TV por assinatura – dominado pelas tecnologias de cabo e de satélite (DTH) – também está em curva descendente. O número de assinantes de DTH cresceu até 2012 e em 2013 caiu 55% em relação ao ano anterior. Por aqui o negócio está “feio” também (ver Estatísticas de TV por Assinatura no Brasil, Teleco).
Nessa matéria “Televisão do Brasil ... Você quer continuar “olhando pro seu umbigo” ou “dar um tiro no seu pé”?, Teleco, Outubro de 2009” já preconizávamos que o futuro das telecomunicações passaria pela Internet de Alta Velocidade e pela Telefonia Móvel e, também, já sinalizávamos a necessidade das empresas de TV adotarem a banda larga móvel nas suas ofertas. Pois é né?!
E para finalizar, só espero “my friend” que depois dessas evidências você não me chame de “Cavaleiro do Apocalipse” (rs)!
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